A pessoa é um ser inteligente e volitivo (é alguém que ama). A síntese de amor e vontade é chamada de liberdade. É livre quem escolhe, quem pensa e opta livremente por algo. A liberdade se manifesta nas escolhas. Esse é o primeiro nível da liberdade – o chamado livre arbítrio, ou seja, a simples capacidade de escolher. Essa não é a perfeição da liberdade, nem a sua realização, mas a sua primeira fase.
O filósofo francês atual, R. Brague, diz em seu livro “Manicômio de verdades: remédios medievais para a era moderna” (cap. V, criação e liberdade): os táxis na França e na Espanha vêm com o sinal “livre”. Muitos pensam que a liberdade humana seja um táxi “livre”: um veículo vazio, sem finalidade, disposto a se locomover para qualquer lugar, desde que alguém entre, escolha e pague. Ele não vai a nenhum lugar em particular. Muitos identificam isso com a liberdade do homem, o que é falso. O poder de escolher bem ou mal é sinal da liberdade, mas não a perfeição da liberdade.
O mesmo Brague disse naquele livro: um dia, quando éramos crianças, dissemos aos nossos pais: “um dia vou fazer tudo o que eu quiser”. Crescemos um pouco e recuperamos o juízo. Sabemos que não fazemos o que queremos, mas o que nos permitem fazer; fazemos, no nosso dia a dia, na maior parte do tempo, o que nos exigem. Em boa parte, somos o que o mundo e a sociedade fizeram conosco. Fazemos o que outros agentes querem que façamos (Ibidem).
Mesmo assim, há uma liberdade mais profunda, que brota da nossa capacidade de reflexão e de escolha: é a liberdade moral, ou seja, a capacidade de nos comprometer profundamente com algo que valha a pena, que dê um sentido às nossas vidas. Nesse caso, a liberdade se revela na sua grandeza: é a capacidade de realizar o bem, de se entregar a algo grande e valioso. A liberdade só tem sentido no bem, na realização do nosso sentido de vida.
A pessoa, na medida em que conhece a realidade, que lê a vida e o mundo, se conhece e adquire maior liberdade de escolha, de entrega, de realizar o verdadeiro bem. Essa é a tarefa da educação e da cultura: devem realmente libertar o homem da ilusão de uma liberdade absoluta e narcisista; libertam o homem também da pobreza de identificar a liberdade com a mera capacidade de escolher, como quem escolhe o destino de um táxi; devem levar o homem a descobrir um sentido da vida, pelo qual valha a pena lutar. Continua.