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Conselhos para uma Boa Leitura (Parte I) – Pe. Anderson Alves

Antonin-Dalmace Sertillanges foi um filósofo e teólogo francês, nascido em 1863 e falecido em 1948. Trabalhou como chefe de redação da Revue Thomiste e professor no Istitut Catholique de Paris. Escreveu diversas obras, entre elas, “A vida intelectual: seu espírito, suas condições, seus métodos”. O capítulo VII desse livro aborda a “preparação do trabalho” e fala da leitura, da organização da memória e das notas. Sobre a leitura, dá dois conselhos: ler pouco e escolher o que se lê.

Diz ele que trabalho intelectual significa aprender e produzir. Ambos necessitam de uma longa preparação e a leitura é o meio universal de aprendizado, além de ser a preparação próxima e remota de toda produção. E os homens são seres sociais e pensam não isoladamente, mas sempre em sociedade. De modo que não há intelectual solitário, isolado em uma torre de marfim. Pensamos sempre com os pensadores do passado, do presente e do futuro. A escrita torna perene o nosso pensamento e nos abre ao diálogo com outras gerações.

De forma que saber ler e reter o lido é uma arte, uma “necessidade primordial” do homem. Para isso, há algumas regras. A primeira é “ler pouco”. Sertillanges escreveu isso na França, em 1920, quando efetivamente se lia muito e não havia ainda as famosas “mídias sociais”. No Brasil, atualmente se lê demasiadamente pouco, ou se lê em demasia o que tem pouco valor. Por isso o conselho de Sertillanges deve ser “adaptado” à nossa realidade e entendido no seu contexto.

De acordo com a 4ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, feita pelo Instituto Pró-Livro, em 2019, o brasileiro tem uma média anual de leitura de 4,96 livro por habitante, sendo que apenas 2,43 desses livros são lidos integralmente. Por outro lado, o estudo “Os franceses e a leitura”, do mesmo ano, mostra que naquele país se lê em média 21 livros por ano, 17 em versão impressa e 4 em formato digital. A pesquisa feita no Brasil indica que 44% da população brasileira não lê e 30% nunca comprou um livro. A leitura fica em 10º lugar na preferência de atividades de lazer. Além disso, segundo o Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF) de 2018, três em cada dez brasileiros entre 15 e 64 anos têm esse déficit. Esses dados podem explicar o 84º lugar do Brasil no ranking do IDH.

Sertillanges observa que o “pouco” da leitura é algo relativo. Para formar um espírito amplo, para praticar a ciência comparada, para ter um horizonte aberto é preciso ler muito, especialmente sobre a nossa área de atuação. Entretanto, devemos ler pouco em relação ao dilúvio de escritos que temos hoje em dia. O errado é o querer ler sempre a última novidade, com pressa, sem esforço de compreensão e assimilação, caindo assim numa preguiça disfarçada, que prefere a quantidade à qualidade e evita o esforço.

Ele diz que é preciso ler não com ímpeto, movido por paixões desordenadas, mas com inteligência, como uma dona de casa que vai ao mercado depois de ter organizado o cardápio do dia ou da semana segundo as leis da higiene e da prudente economia. De fato, a leitura desordenada paralisa o espírito e não o alimenta. Torna-o pouco capaz de reflexão, de concentração e de produção. Ela pode tornar o espírito escravo do excesso de imagens mentais, fazendo-o um espectador. Isso tudo é certo e é atualmente agravado com a constante exposição a imagens e textos curtos na TV e na Internet.

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