Bento XVI no número 44 de Caritas in veritate diz que a concepção dos direitos e dos deveres no desenvolvimento dos povos deve ter em conta os problemas ligados com o crescimento demográfico. Ele afirma que “considerar o aumento da população como a primeira causa do subdesenvolvimento é errado, inclusive do ponto de vista econômico”.
De fato, por um lado ocorre uma diminuição da mortalidade infantil e o alongamento médio da vida nos países economicamente desenvolvidos; por outro, ocorre “sinais de crise” nas sociedades em que há uma queda preocupante da taxa de natalidade. O papa afirma que é necessário prestar a devida atenção a uma procriação responsável. Ao mesmo tempo, a Igreja recomenda o respeito dos valores humanos próprios da sexualidade: o seu uso não pode ser reduzido a um fato hedonista e lúdico e a educação sexual não se pode limitar à instrução técnica, como forma de defender os interessados de eventuais contágios ou do “risco” procriador. O valor real da sexualidade deve ser reconhecido e assumido de forma responsável pela pessoa e pela comunidade. Tal responsabilidade significa que a sexualidade não pode ser considerada mera fonte de prazer, nem deve ser regulada por políticas de planificação forçada de nascimentos. Isso seria violência em relação à pessoa e à sua dignidade.
Desse modo, “a abertura moralmente responsável à vida é uma riqueza social e econômica”. Com efeito, grandes nações saíram da miséria graças ao grande número e às capacidades dos seus habitantes. E outras nações outrora prósperas atravessam agora uma fase de incerteza e de declínio por causa da diminuição da natalidade. Esse é um problema crucial para as sociedades de proeminente bem-estar.
Segundo Caritas in veritate, a diminuição dos nascimentos põe em crise os sistemas de assistência social, aumenta os seus custos, contrai as poupanças e os recursos necessários para os investimentos, reduz a disponibilização de trabalhadores qualificados, restringe a reserva de “cérebros” para as necessidades da nação. Além disso, as famílias de pequena dimensão correm o risco de empobrecer as relações sociais e de não garantir formas eficazes de solidariedade.
Tudo isso constitui sintomas de escassa confiança no futuro e de cansaço moral. Isso é muito semelhante a outra época histórica, de fortes mudanças sociais. No início do século V, etapa final do Império Romano, o bispo Santo Euquério fez um retrato da crise da sua época com uma afirmação famosa: “esse mundo de cabelos brancos”. Essa afirmação parece descrever cada vez mais a sociedade ocidental.
De acordo com Bento XVI “é uma necessidade social e econômica propor às novas gerações a beleza da família e do matrimônio, a correspondência de tais instituições às exigências mais profundas do coração e da dignidade da pessoa. Nesta perspectiva, os Estados são chamados a instaurar políticas que promovam a centralidade e a integridade da família, fundada no matrimônio entre um homem e uma mulher, célula primeira e vital da sociedade, preocupando-se também com os seus problemas econômicos e fiscais, no respeito da sua natureza relacional”.