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Caridade na verdade: a família humana – Pe. Anderson Alves

Dissemos anteriormente que, segundo Caritas in veritate, a maior pobreza da atualidade é a do isolamento, do fechamento do homem a Deus e ao próximo. Por outro lado, o homem só se realiza na relação, a qual não anula as pessoas, as suas identidades, mas as torna plenas, como na família, em que cada um é conhecido a partir de um conjunto de relações que dão fortalecem a identidade e a personalidade. De modo semelhante, “o desenvolvimento dos povos inclui a dimensão relacional de todas as pessoas e dos povos na única comunidade da família humana” (n. 54). Isso é feito na solidariedade, que significa participação no que é sólido. A solidariedade se funda na justiça e na paz. Segundo Santo Agostinho, a paz é a tranquilidade de uma ordem justa. Se a justiça é contrariada, a paz é perdida.

As pessoas são, pois, realidades substanciais que se realizam na relação. Boécio deu a primeira grande definição de pessoa no Ocidente: “substância individual de natureza racional”. A pessoa é algo em si, é uma substância individual, mas que está intrinsecamente aberta à relação. O homem se destrói quando nega um desses dois aspectos: quando pretende afirmar apenas a si mesmo, o seu ser, a sua individualidade, torna-se frio, egoísta, interesseiro e frustrado. Por outro lado, ocorre o risco de haver um excesso de relações que o dispersam, fazendo-o se esquecer de ser uma substância, de possuir uma autêntica natureza, a qual não pode ser negada.

O homem deve-se entender, pois, como uma substância racional e relacional, criado para conhecer e amar a verdade. Deve buscar, acima de tudo, a verdade sobre Deus, sobre si, sobre o próximo, e o valor justo de todas as coisas. O homem só se realiza nas relações. Para que o homem entendesse plenamente isso, Deus veio ao seu encontro e se revelou, dando-lhe a possibilidade de conhecê-lo. De forma que a reflexão cristã sobre o mistério da Santíssima Trindade, que afirma haver três Pessoas na única Substância divina, revela a sua natureza mais íntima.

“A Trindade é absoluta unidade, enquanto as três Pessoas divinas são pura relação. A transparência recíproca entre as Pessoas divinas é plena, e a ligação de uma com a outra total, porque constituem uma unidade e unicidade absoluta” (n. 54). E o Deus Uno e Trino quer nos unir a si, à sua comunhão de vida, de conhecimento e de amor. A Igreja é sinal dessa unidade na diversidade. De forma que as relações humanas se enriquecem quando são compreendidas a partir do mistério trinitário. Na Trindade, cada pessoa vive inteiramente relacionada com a outra, e há uma profunda compenetração entre elas. De forma semelhante, compenetram-se no homem o conhecimento e o amor. Por um lado, só se ama o que se conhece; e quanto mais se conhece algo, mais cresce o amor pelo ser conhecido.

Isso se manifesta, de forma especial, num tipo único de relacionamento humano: o matrimônio, que é uma instituição natural e, entre os cristãos, foi elevada a sacramento. Quando um homem e uma mulher se casam, os dois se tornam “uma só carne”, numa relação que afirma a individualidade e a consequente complementariedade. Desse modo, “de dois que eram, faz uma unidade relacional e real, de forma análoga a verdade une os espíritos entre si e fá-los pensar em uníssono, atraindo-os e unindo-os nela” (n. 54). Como o mistério da Trindade ilumina o matrimônio, tem o poder de iluminar as relações humanas e o conjunto da família humana.

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