5. Esperar é intuir. Ambrósio de Milão
Estimados irmãos e irmãs, bom dia e bem-vindos!
O Jubileu torna-nos peregrinos de esperança, porque intuímos uma grande necessidade de renovação que diz respeito tanto a nós como a toda a terra.
Acabei de dizer “intuímos”: este verbo – intuir – descreve um movimento do espírito, uma inteligência do coração que Jesus encontrou sobretudo nos pequeninos, isto é, nas pessoas de alma humilde. Com efeito, muitas vezes as pessoas eruditas intuem pouco, pois presumem saber. É bom, ao contrário, ter ainda espaço na mente e no coração, a fim de que Deus se possa revelar. Quanta esperança, quando surgem novas intuições no povo de Deus!
Jesus exulta com isto, está cheio de alegria, pois se dá conta de que os pequeninos intuem. Têm o sensus fidei, que é como um “sexto sentido” das pessoas simples em relação às coisas de Deus. Deus é simples e revela-se aos simples. Por isso, há uma infalibilidade do povo de Deus na fé, da qual a infalibilidade do Papa é expressão e serviço (cf. Conc. Ecum. Vat. II, Lumen gentium, 12; Comissão Teológica Internacional, O “sensus fidei” na vida da Igreja, 30-40).
Gostaria de recordar um momento na história da Igreja, que mostra como a esperança pode advir da capacidade de intuição do povo. No século IV, em Milão, a Igreja vivia dilacerada por grandes conflitos e a eleição do novo bispo transformava-se num verdadeiro tumulto. Interveio a autoridade civil, o governador Ambrósio que, com grande capacidade de escuta e mediação, restabeleceu a tranquilidade. A narração conta que, então, uma voz de criança se levantou clamando: “Ambrósio bispo!”. E assim também todo o povo pediu: “Ambrósio bispo!”.
Ambrósio nem sequer era batizado, era apenas um catecúmeno, ou seja, preparava-se para o Batismo. Mas o povo intui algo profundo neste homem e elege-o. Assim, a Igreja teve um dos seus maiores bispos, um doutor da Igreja.
A princípio Ambrósio não quer, até foge. Depois compreende que se trata de uma chamada de Deus, por isso deixa-se batizar e ordenar bispo. E torna-se cristão como bispo! Vede que grande dom foi oferecido pelos pequeninos à Igreja? Ainda hoje esta é uma graça a pedir: tornar-se cristão vivendo a chamada recebido! És mãe, és pai? Torna-te cristão como mãe e pai. És empresário, operário, professor, sacerdote, religiosa? Torna-te cristão no teu caminho. O povo tem este “faro”: compreende se nos estamos a tornar cristãos ou não. E pode corrigir-nos, pode indicar-nos o rumo de Jesus.
Ao longo dos anos, Santo Ambrósio restituiu muito ao seu povo. Por exemplo, inventou novas formas de entoar salmos e hinos, de celebrar, de pregar. Ele próprio sabia intuir, e assim a esperança multiplicou-se. Agostinho converteu-se graças à sua pregação e foi batizado por ele. Intuir é uma maneira de esperar, não nos esqueçamos disto!
Também desta forma Deus faz a sua Igreja progredir, indicando-lhe novos caminhos. Intuir é o faro dos pequeninos para o Reino que há de vir. Que o Jubileu nos ajude a tornar-nos pequeninos segundo o Evangelho, para intuir e servir os sonhos de Deus!
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Saudações:
Queridos peregrinos de língua portuguesa, a todos vós, em especial aos catequistas, dou as minhas cordiais boas-vindas. Que nunca vos falte nem coragem nem dedicação no anúncio da boa nova de Jesus, em particular às crianças, para que elas cresçam intuindo que Deus as ama e tem para elas grandes sonhos. De coração, a todos abençoo!
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Apelo
Hoje, em Bilki (Ucrânia), será beatificado o sacerdote Pedro Paulo Oros, da Eparquia de Mukachevo, morto em 1953 por ódio à fé. Quando a Igreja greco-católica foi declarada ilegal, ele permaneceu fiel ao Sucessor de Pedro e, com coragem, continuou a exercer o seu ministério clandestinamente, consciente dos riscos. Invoquemos a intercessão deste novo Beato, a fim de que permita que o amado povo ucraniano persevere vigorosamente na fé e na esperança, não obstante o drama da guerra!
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Resumo da catequese do Santo Padre:
Deus é simples e revela-se aos simples. Por isso, Jesus alegra-se ao constatar nos pequeninos o sensus fidei, ou seja, uma aptidão especial para as coisas de Deus. Podemos ver isso mesmo num momento-chave da vida de Santo Ambrósio, quando uma criança o apontou como bispo de Milão e, de seguida, todo o povo o aclamou como tal. Foi assim que Ambrósio, um simples catecúmeno, reconheceu o chamamento de Deus e aceitou viver a sua pertença a Cristo como bispo. Que este Jubileu nos faça peregrinos de esperança, capacitando-nos a intuir a vontade de Deus a nosso respeito.
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L’Osservatore Romano
