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A Síntese Teológica de Tomás de Aquino: entre Agostinho e Aristóteles – Pe. Anderson Alves

Dissemos anteriormente que Agostinho buscou falar de Deus a partir da analogia dele com o homem, que é um microcosmo, ou seja, um resumo de toda a criação, pois une o universo sensível e o mundo espiritual. Segundo Agostinho, as criaturas são palavras de Deus que expressam a sua única Palavra, ou seja, o Filho. As criaturas existem para nos fazer recordar do Criador, conhecê-lo e amá-lo. O homem é imagem e semelhança de Deus quando age espiritualmente, ou seja, quando se recorda, ama e conhece qualquer coisa; e o é principalmente quando se recorda, pensa e ama a Deus. De forma que o homem é o ser que mais revela a Deus.

Aqui está a genialidade de Agostinho, que será seguida pelos grandes teólogos da Igreja, especialmente por Tomás de Aquino: ele intuiu que, ao refletir sobre o mistério de Deus, desvendamos o mistério do homem; ao mesmo tempo, ao investigar o mistério do homem, especialmente a sua alma, conhecemos o mistério de Deus, pois é pela alma que o homem foi constituído “à imagem e semelhança” do Deus Uno e Trino. A psicologia é, pois, um meio para se conhecer o mistério do Deus Uno e Trino e faz parte da teologia.

Em De Trinitate, Agostinho elaborou analogias do homem com Deus. Há diversas na sua obra. Talvez as mais conhecidas sejam: a) A tríade “mente, conhecimento e amor”: Agostinho propõe que a mente humana, que é a nossa capacidade de medir (mensurare) o real, o conhecimento que ela tem de si mesma e o amor que une os dois são uma imagem da Trindade. A mente representa o Pai, o conhecimento representa o Filho, e o amor representa o Espírito Santo; b) a tríade “amante, amado e amor” é outra maneira de ilustrar a Trindade. De fato, em toda experiência humana de amor há um amante, que representa o Pai, um amado, que representa o Filho, e o mesmo amor que flui e une amante e amado, que se refere ao Espírito Santo. Essa analogia destaca a relação interpessoal e a unidade dentro da diversidade trinitária.

Santo Tomás de Aquino, por sua vez, no século XIII uniu duas correntes culturais que caminhavam em paralelo no Ocidente: a teologia agostiniana, que havia assimilado parte da filosofia platônica e neoplatônica, e a filosofia que estava sendo descoberta na sua época: o aristotelismo. Na época de Tomás havia os teólogos agostinianos “puros”, que se opunham ao aristotelismo dos filósofos; por outro lado, havia o “averroismo latino”, que se opunha ao agostinianismo dos teólogos. Falaremos disso no próximo texto.

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