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A Pandemia do Smartphone (Parte I) – Pe. Anderson Alves

Die Smartphone Epidemie” é o título do livro do médico e psiquiatra alemão Manfred Spitzer, professor visitador em Harvard e diretor da Clínica psiquiátrica e o Centro para as Neurociências e o Aprendizado da Universidade de Ulm, na Alemanha. Ele é autor de diversos livros, cujos títulos traduzidos ao português são “Demência Digital”, “Solidão Digital” e “Conectados e isolados” (ainda não traduzidos). O autor é um dos mais renomados neurocientistas da atualidade na Alemanha.

O subtítulo do livro que trata a “epidemia do smartphone”, publicado em 2018 na Alemanha, é sugestivo: “os perigos para a saúde, a educação e a sociedade”. “Demência Digital”, publicado em 2012, foi um livro muito bem documentado e argumentado e gerou uma saudável discussão, nos EUA e na Europa, sobre os riscos das tecnologias da informação sobre a educação dos mais jovens. O autor evidencia os efeitos colaterais desse tipo de tecnologia na educação e na formação das pessoas, especialmente as mais jovens. Ele afirma diversas vezes em sua obra: “é a dose a transformar uma substância em veneno”.

Nossos estudos sobre inteligência artificial nos levaram a algo mais fundamental e difundido no nosso país: o consumo das tecnologias digitais e os estudos sobre os efeitos do telefone celular na vida das pessoas. Os livros de Spitzer estão todos baseados na sua prática clínica e em estudos científicos, publicados nos mais importantes periódicos internacionais, como “Nature” e “Science”. Segundo o autor, devemos confiar nas ciências, pois nos oferecem conhecimentos sólidos e comprovados. A ciência é o que temos de melhor, na cultura e sociedade humana, embora muitas vezes ela seja usada ou combatida por um poderoso rival: o mercado.

A ciência, por meio de diversos estudos, mostra os efeitos negativos do smartphone e da mídia digital, algo que não aparece nos grandes meios de comunicação. O autor cita um exemplo: em 20/01/2018 somente uma revista, a Neue Züricher Zeitung, contou detalhadamente de um ataque hacker ao sistema sanitário da Noruega, que tomou dados da metade da população daquele país. Os maiores jornais alemães não falaram do tema, pois não queriam colocar obstáculos às políticas de digitalização que estavam em curso no país. Muitos jornais quotidianos insistem em dizer que nossas escolas devem ser “digitalizadas”, principalmente a partir do uso dos celulares. Entretanto, os dados científicos dizem que esses meios causam danos ao cérebro, à saúde, ao inteiro processo educativo e à sociedade. Baseados nesses dados, o Parlamento francês proibiu, em 2018, o uso dos smartphones nas escolas.

O primeiro capítulo do livro de Spitzer resume as descobertas a respeito de tais danos, que depois são explicados nos diversos capítulos, a partir de dezenas de estudos científicos. No próximo artigo falaremos desses dados. Agora gostaríamos de alertar a apenas um risco desses meios: o da dependência. Spitzer conta no seu livro um fato que lhe ocorreu: uma mãe lhe contou assustada que, quando tentou retirar do seu filho pequeno o celular, o menino lhe mordeu a mão. Isso é um sinal evidente de dependência.

Atualmente, porém, muitos pais utilizam os meios digitais – tvs, computadores, tablets e, principalmente o celular – como se fossem “babás digitais”. Spitzer relata o efeito disso, a partir de diversos estudos: o uso do celular por parte dos pais faz com que as crianças pequenas procurem chamar a atenção dos seus pais, que não o entendem, e procuram “acalmar” as crianças oferecendo-lhes “telas”, para assim poderem voltar aos seus meios eletrônicos. Isso gera um círculo vicioso: as crianças pequenas, no início, buscam chamar a atenção dos seus pais e, quando não o recebem, acabam por imitá-los, gerando maior distanciamento entre pais e filhos. Isso deveria nos fazer refletir. Esperamos promover uma séria reflexão sobre o tema nos próximos artigos.

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