Celebramos, hoje, a Solenidade de Pentecostes, que completa o Tempo de Páscoa, cinquenta dias, depois do Domingo da Ressurreição. Esta Solenidade faz – nos recordar e reviver a efusão do Espírito Santo sobre os Apóstolos e os outros discípulos, reunidos em oração, com a Virgem Maria, no Cenáculo (At 2, 1-11). O Mistério Pascal chega à sua plenitude com a vinda do Espírito Santo, que une todas as línguas, raças e povos, impulsionando-nos a viver o amor verdadeiro. É o nascimento da Igreja. Pentecostes é o cumprimento da promessa de Jesus: “… se Eu for, Eu O enviarei a vós” (Jo 16, 7). Jesus, tendo ressuscitado e subido ao Céu, envia à Igreja o seu Espírito, para que, cada cristão, possa participar, na sua mesma vida divina, e tornar – se sua testemunha válida, no mundo. O Espírito santo, irrompendo na História, derrota a sua aridez, abre os corações à esperança, estimula e favorece em nós a maturação na relação com Deus e com o próximo.
No dia de Pentecostes, o Espírito Santo desceu, com poder, sobre os Apóstolos; teve, assim, início a missão da Igreja no mundo. O próprio Jesus tinha preparado os Onze para esta missão, aparecendo-lhes várias vezes, depois da sua Ressurreição (At 1,14). Celebramos o dia no qual o Pai e o Filho enviaram o Espírito Santo sobre a Igreja, para santificá-la continuamente. É Deus em nós! O Espírito Santo comunica vida nova àqueles nos quais habita. Quem eram os apóstolos antes? De fracos, ignorantes e covardes, o Espírito Santo fê-los destemidos anunciadores da verdade, transformadores do mundo. Por eles, quantos chegaram à fé, inclusive nós!
Pentecostes era uma das grandes festas judaicas. Muitos israelitas iam, nesses dias, em peregrinação a Jerusalém, para adorar a Deus, no Templo. A origem da festa remontava a uma antiquíssima celebração em que se davam graças a Deus pela safra do ano, em vésperas de ser colhida. Depois acrescentou-se a essa comemoração, que se celebrava cinquenta dias depois da Páscoa, a da promulgação da Lei dada por Deus no monte Sinai. Por desígnio divino, a colheita material, que os judeus festejavam com tanto júbilo, converteu-se na Nova Aliança, numa festa de imensa alegria: a vinda do Espírito Santo, com todos os seus dons e frutos.
A vinda do Espírito Santo, no dia de Pentecostes, não foi um acontecimento isolado, na vida da Igreja. O Paráclito santifica-a, continuamente, como, também, santifica cada alma, através das inúmeras inspirações que se escondem em “todos os atrativos, movimentos, censuras e remorsos interiores, luzes e conhecimentos que Deus produz em nós, prevenindo o nosso coração com as suas bênçãos, pelo seu cuidado e amor paternal, a fim de nos despertar, mover, estimular para o amor celestial, para as boas resoluções, para tudo aquilo que, numa palavra, conduz-nos à nossa vida eterna. A sua ação, na alma, é suave e aprazível; Ele vem salvar, curar, iluminar” (São Francisco de Sales).
Em Pentecostes, os Apóstolos foram robustecidos na sua missão de anunciarem a Boa Nova a todos os povos. Todos os cristãos têm, desde então, a missão de anunciar, de cantar as maravilhas que Deus fez no seu Filho e em todos aqueles que creem nEle.
Ao compreendermos a grandeza da nossa missão, compreendemos, também, que ela depende da nossa correspondência às moções do Espírito Santo, e sentimo-nos necessitados de pedir-lhe, frequentemente, que lave o que está manchado, regue o que está seco, cure o que está doente, acenda o que está morno, retifique o que está torcido. Porque sabemos bem que, no nosso interior, há manchas e partes que não dão todo o fruto que deveriam, porque estão secas; e partes doentes; e tibieza e, também, pequenos desvios, que é necessário retificar.
Não se pode conceber vida cristã, nem Igreja, sem a presença e a ação do Espírito Santo. Por Ele, os corações são elevados ao alto, os fracos são conduzidos pela mão, os que progridem, na virtude, chegam à perfeição. Ele ilumina os que foram purificados de toda a mancha e torna-os espirituais pela comunhão consigo. Volta-se para Ele o olhar de todos os que buscam a santificação; para Ele, tende a aspiração de todos os que vivem segundo a virtude; é o seu sopro que os revigora e reanima para atingirem o fim natural e próprio para que foram feitos.
Depois que Jesus completou a sua obra, constituído Senhor a partir de sua Ressurreição, envia ao mundo o seu Espírito, o Espírito do Pai. Conforme São João (Jo 20,19-23), Jesus comunica o seu Espírito, o mesmo Espírito que Ele entregou ao Pai, no dia da Ressurreição. Para isso, sopra sobre eles, transmitindo-lhes a vida nova, a força, o Espírito Santo: “Recebei o Espírito Santo…” e o Dom do Perdão e da Reconciliação.
O Espírito Santo conduz-nos à vida de oração. A vida cristã requer um diálogo constante com Deus Uno e Trino, e é a essa intimidade que o Espírito Santo nos conduz. Acostumemo-nos a procurar o convívio com o Espírito Santo, que é quem nos há de santificar; a confiar nEle, a pedir a sua ajuda, a senti-Lo perto de nós. Assim, irá dilatando-se o nosso pobre coração, pois teremos mais ânsias de amar a Deus e, por Ele, a todas as criaturas. Ele é fonte da santidade e luz da inteligência; é ele que dá, de si mesmo, uma certa iluminação à nossa razão natural para que encontre a verdade.
A chama do Espírito Santo transformou, totalmente, os Apóstolos… Que essa mesma chama ilumine e aqueça a nossa vida no caminho da Unidade, do Bem e da Verdade…
“O Espírito vem em socorro de nossa fraqueza, pois não sabemos o que pedir” (Rm 8,26). Assim, é possível entender o vigor apostólico de São João Paulo ll, o serviço aos mais sofredores de Santa Dulce da Bahia ou Santa Teresa de Calcutá; a dedicação heroica de esposos e pais em prol da fidelidade ao matrimônio e à família, ou de sacerdotes e religiosos pela Igreja.
Diz São João da Cruz que o Espírito Santo, com a sua chama, está ferindo a alma, gastando e consumindo-lhe as imperfeições dos seus maus hábitos. O mesmo Espírito Santo vem, hoje, para nós. Vem limpar os nossos corações e livrar-nos do pessimismo, do desalento, da falta de amor a Deus e ao próximo. O mesmo fogo quer, hoje, queimar e aquecer. Queimar as nossas misérias, a nossa preguiça espiritual; quer aquecer o coração que talvez esteja frio pela indiferença, pela tristeza ou pela dor; quer aquecer com o fogo do amor de Deus. Seus dons e frutos são vividos à medida que os pedimos e os aceitamos. Para conviver com o Espírito Santo: docilidade e vida de oração.
Vida de oração, porque o amor exige conversa assídua, amizade. É necessário procurar o convívio com o Espírito Santo.
O Espírito Santo é a alma da Igreja! Sem Ele, a que se reduziria a Igreja? Sem dúvida, seria um grande movimento histórico, uma instituição social complexa e sólida, talvez uma espécie de agência humanitária. E, na verdade, é assim que a julgam quantos a consideram fora de uma perspectiva de fé. Na realidade, porém, na sua verdadeira natureza e, também, na sua mais autêntica presença histórica, a Igreja é, incessantemente, plasmada e orientada pelo Espírito do seu Senhor. É um Corpo vivo, cuja vitalidade é precisamente o fruto do invisível Espírito Divino.
A vinda do Espírito Santo não foi um acontecimento isolado, na vida da Igreja. Agradeçamos tão grande dom e não coloquemos obstáculos. Procurar o convívio com o Espírito Santo, confiar nEle, pedir a sua ajuda. Ele dará tom sobrenatural aos nossos pensamentos, desejos e obras. Quem se abre ao Espírito Santo adquire uma nova percepção da vida que corre ao seu redor; são luzes novas em suas relações e ocupações, preocupações, tristezas e alegrias.
Se formos dóceis ao Espírito Santo, a imagem de Cristo irá se formando em nós. Admiramos os santos? Admiremos muito mais o que o Espírito Santo fez neles! E, em um só coro, com toda a Igreja, rezemos: “ Ó Deus, que pelo mistério da festa de hoje, santificais vossa Igreja inteira, em todos os povos e nações, derramai por toda a extensão do mundo os dons do vosso Espírito Santo e realizai, agora, no coração dos que creem em vós, as maravilhas que operastes no início da pregação do Evangelho”.
Falando sobre o envio do Espírito Santo, ensina Santo Irineu: “São Lucas nos diz que esse Espírito, depois da Ascensão do Senhor, desceu sobre os discípulos, no dia de Pentecostes, com o poder de dar a vida nova a todos os povos e de fazê-los participar da Nova Aliança. Foi por isso que o Senhor prometeu enviar o Paráclito, que os tornaria capazes de receber a Deus. Assim como a farinha seca não pode, sem água, tornar-se uma só massa nem um só pão, nós também, que somos muitos, não poderíamos transformar-nos num só corpo, em Cristo Jesus, sem a água que vem do céu. E, assim como a terra árida não produz fruto se não for regada, também nós, que éramos antes como uma árvore ressequida, jamais daríamos frutos de vida, sem a chuva da graça enviada do alto.
Por esse motivo, temos necessidade deste orvalho da graça de Deus para darmos fruto e não sermos lançados ao fogo, e para que, também, tenhamos um Defensor onde temos um acusador, pois o Senhor confiou ao Espírito Santo o cuidado da sua criatura, daquele homem que caíra nas mãos dos ladrões e a quem ele, cheio de compaixão, enfaixou as feridas e deu dois denários reais. Tendo assim recebido pelo Espírito a imagem e a inscrição do Pai e do Filho, façamos frutificar os dons que nos foram confiados e os restituamos, multiplicados ao Senhor”.
Para chegarmos a um convívio mais íntimo com o Espírito Santo, aproximemo-nos da Virgem Maria, que soube secundar, como ninguém, as inspirações do Espírito Santo. “ Todos eles perseveravam na oração em comum, junto com algumas mulheres e Maria, Mãe de Jesus, e com os irmãos dele” (At 1,14).
Recolhida com Maria, como no seu nascer, a Igreja reza, também, hoje: Vem, Espírito Santo, enche os corações dos teus filhos e acende neles o fogo do teu amor!
Por isso, cantemos: Vem, vem, vem, vem Espírito Santo de Amor, vem a nós, traz à Igreja um novo vigor!