Um dos grandes pesquisadores da inteligência artificial é Luciano Floridi. Ele nasceu em Roma, foi formado na Universidade La Sapienza, naturalizou-se britânico e leciona Filosofia e Ética da Informação em Oxford. Na Universidade de Bolonha ocupa a cátedra de Sociologia da Cultura. Há anos ele trata da chamada “quarta revolução industrial”, que significa a compenetração do mundo físico e digital, a qual considera os dados (coleta, classificação e utilização) algo de fundamental valor. O seu último livro chama-se “Ética da inteligência artificial: desenvolvimento, oportunidades e desafios”, de março de 2022. Ele desenvolve há anos uma ética da informação e da internet e é um dos maiores teóricos da área.
Floridi recorda que para Aristóteles os homens tendem por natureza ao saber. Segundo Galileu (Il Saggiatore, 1623), a Filosofia está escrita no universo: o livro da natureza para ser compreendido, o que implica o conhecimento da linguagem matemática. Na modernidade, o conhecimento se matematiza e quantifica. Antes dessa época, o conhecimento era principalmente teórico, ou seja, a humanidade tinha uma abordagem representativa (“mimética”) do mundo. Com o método científico, passou a haver uma abordagem principalmente construtiva (“poética”) do mundo, ou seja, o conhecimento prático ganhou a primazia sobre o teórico. Nessa segunda perspectiva – a poética – a informática é inserida. Desde o início ela se tornou indispensável para as outras ciências.
A revolução tecnológica e informática possibilitou a aparição das inteligências artificiais. Floridi distingue as inteligências artificiais reprodutivas (fracas) e as produtivas (fortes). A primeira “tenta obter com meios não biológicos o resultado do nosso comportamento inteligente” (2021)[1]. O exemplo seria um robô cortador de grama. Nesse caso, o importante não é como o processo é realizado, mas que o objetivo seja alcançado.
A inteligência artificial produtiva “tenta obter o equivalente não biológico da nossa inteligência”: seria um robô capaz de selecionar os lugares do jardim a serem cuidados, escolhendo o que fazer a partir do gosto do seu dono, que ele poderia “compreender”. Esse tipo de inteligência só existe na ficção. Entretanto, ela ganha a atenção hoje em dia. A inteligência artificial realiza cálculos a partir de regras estatísticas. Ela não possui um intelecto agente e possível, ou seja, ela não lê a realidade, mas apenas dispõe de certos padrões matemáticos que podem ser úteis à vida cotidiana.
Segundo Floridi não há verdadeira “inteligência reprodutiva”, ou seja, os instrumentos não são capazes de “intelligere”, mas apenas de fazer. Por isso ele fala de “novas formas do agere” (agir). A AI seria então capaz de um “agere artificial”, e não propriamente uma inteligência artificial.
[1] Disponível em: https://www.ihu.unisinos.br/categorias/612729-etica-digital-on-e-offline-artigo-de-luciano-floridi