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A Imagem de Deus no Homem: Memória e Inteligência segundo Tomás de Aquino – Pe. Anderson Alves

Em De veritate, q. 10, a. 3, Santo Tomás se pergunta se a memória é parte da inteligência ou é uma faculdade superior do homem, distinta da inteligência. A pergunta é pertinente, pois Santo Agostinho afirmara, no Livro XIV de De Trinitate, que a alma foi feita à imagem de Deus na medida em que pode fazer uso da razão e do intelecto para compreender a Deus e contemplá-lo. A alma pode contemplar a Deus, portanto, de acordo com as suas faculdades. E a imagem de Deus na alma se encontra em três faculdades: na memória, na inteligência e na vontade, que seriam os três poderes distintos da alma, segundo Santo Agostinho.

Tomás de Aquino esclarece que a imagem da Trindade na alma pode ser considerada de duas maneiras; a) a primeira, segundo uma imitação perfeita da Trindade; b) e segundo uma imitação imperfeita. A alma imita perfeitamente a Trindade na medida em que se lembra, compreende em ato e quer em ato. Portanto, segundo esse modo de imitação perfeita, Santo Agostinho atribui a imagem a essas três realidades: memória, inteligência e vontade, na medida em que a memória implica um conhecimento habitual, enquanto a inteligência envolve conhecimento atual e a vontade carrega consigo um movimento real da vontade a partir do pensamento.

A imagem segundo uma imitação imperfeita ocorre de acordo com hábitos e faculdades, e assim Santo Agostinho, no nono livro de De Trinitate, delimita a imagem da Trindade na alma de acordo com a mente, o conhecimento e o amor. A mente designa uma faculdade, enquanto o conhecimento e o amor designam os hábitos da mente. Isso implica, pois, o conhecimento atual e o habitual. Agostinho dá exemplos do que seria um conhecimento habitual: o músico conhece certa música sem pensar atualmente nela; o mesmo ocorre com o geômetra, que conhece a geometria mesmo sem estar atualmente pensando nas operações daquela ciência.

Assim sendo, quando o conhecimento e o amor são tomados como hábitos, pertencem apenas à memória. Mas como os atos estão fundados radicalmente nas faculdades, como os efeitos estão nas suas causas, a imitação perfeita, que está de acordo com a memória, a inteligência atual e a vontade atual, pode ser encontrada originalmente nas faculdades segundo as quais a alma pode realmente lembrar, compreender e querer.

Portanto, a imagem (da Trindade) deve ser buscada nas faculdades da mente. A memória, porém, não é uma faculdade distinta da inteligência humana. Pois as faculdades (ou potências) não se diversificam a partir da diversidade dos seus objetos, exceto quando a diversidade dos objetos procede daquilo que por si compete aos objetos, na medida em que são objetos de tais faculdades. Por isso, o calor e o frio, que estão numa realidade colorida, não diversificam como tal o poder da visão. É característico do poder da visão ver o que é colorido quente e frio, doce e amargo. É uma só potência (visual), que conhece objetos diversos e opostos (como o quente e o frio). Assim o intelecto conhece o presente, o passado e o futuro e a memória, que conhece o passado, faz parte do intelecto.

Mesmo que a memória não seja uma faculdade distinta da inteligência, ainda assim a Trindade é encontrada na alma também ao considerar as suas faculdades, na medida em que uma faculdade, como o intelecto, está relacionada a várias coisas, isto é, pode ter conhecimento de algo habitualmente e atualmente. Portanto, a imagem da Trindade no homem está em duas potências distintas, a inteligência e a vontade; e a memória faz parte do intelecto, e diz respeito aos nossos conhecimentos passados e habituais.

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