A Imagem de Deus está no Homem Apenas Segundo a Mente? (Parte I) – Pe. Anderson Alves

Em Summa Theologiae, I, q. 93, a. 6, Santo Tomás indaga se a imagem de Deus no homem reside apenas na mente ou também em outras faculdades (como o corpo e a sensibilidade). A resolução desse questionamento inicia-se com duas citações de São Paulo: a) “Renovai-vos no espírito de vossa mente e revesti-vos do homem novo” (Ef. 4, 23-24); b) “Revestindo o homem novo, o qual continuamente se renova para alcançar o conhecimento de Deus, segundo a imagem de seu Criador” (Col. 3,10). Esses textos dizem que a renovação, característica do homem novo, diz respeito à mente, ou seja, ao “revestir-se” de Cristo.

Santo Tomás apresenta o motivo para essa conclusão: todas as criaturas possuem certa semelhança com Deus; no entanto, somente a criatura dotada de razão possui essa semelhança de forma específica, como uma ‘imagem’. Nas demais criaturas, essa semelhança se manifesta como um ‘vestígio’. Isso ocorre porque a criatura racional transcende as outras criaturas devido ao seu intelecto ou mente.

Na criatura racional, a imagem de Deus se realiza primordialmente na mente, enquanto as outras partes, como o corpo e os sentidos, representam ‘vestígios’ da Trindade. A imagem está relacionada a uma semelhança específica, enquanto o vestígio é o efeito de uma causa, sem atingir a mesma semelhança específica. Tomás ilustra essa distinção com exemplos: as marcas deixadas pelo movimento dos animais são consideradas vestígios; a cinza é um vestígio do fogo; a devastação de um país é um vestígio da ação de um exército inimigo.

Por outro lado, as criaturas dotadas de razão são a representação da natureza específica de Deus, pois imitam-no em seu ser, conhecimento e amor. As demais criaturas não possuem conhecimento intelectual, e nelas encontramos apenas o vestígio do intelecto que as criou, tornando-as criaturas inteligíveis.

Em relação à semelhança da Trindade, ela se distingue pela processão (do verbo proceder) do Verbo da parte de quem o profere e pela processão do Amor de um e de outro (do Pai e do Filho). Na criatura dotada de razão ocorre a processão do verbo na inteligência, e a processão do amor na vontade, e por isso pode-se falar de uma imagem da Trindade em virtude de uma representação específica dela no homem.

As outras criaturas não têm o princípio do verbo (a mente), o verbo e o amor. Nelas aparece algum vestígio dessas três realidades apenas. Pois elas são uma substância finita e isso demonstra que possuem um princípio; a pertença delas a uma espécie demonstra o verbo do Criador (as criaturas são, pois, como palavras de Deus a nós). Tomás dá um exemplo disso: diz que a forma de uma casa demonstra a concepção do seu arquiteto; e a ordem das criaturas demonstra o amor do ser que as criou. As criaturas todas, pois, são substâncias, são verdadeiras e boas, e por isso são vestígio da Trindade. Portanto, no homem encontra-se certa semelhança de Deus por modo de imagem segundo a mente, enquanto nas outras partes sua a semelhança de Deus ocorre por modo de vestígio.

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