Continuamos a falar do livro de J. Haidt, “A Geração Ansiosa”. O autor defende, nessa obra, que o excesso de uso das mídias causa uma espécie de “remodelação” das conexões sinápticas do nosso sistema nervoso durante os primeiros anos de vida.
Segundo outra obra que já apresentamos em nossos textos, “Elogio da lentidão”, do neurocientista italiano Lamberto Maffei, um tempo especialmente importante para a “construção do nosso cérebro” é a idade de 0 aos 3 anos, que constitui a “fase crítica” da formação do sistema nervoso do homem. Nessa fase, o cérebro precisa de um máximo de estímulos para ativar as suas diversas áreas. Especialmente importante é o desenvolvimento da linguagem, pois pensar significa essencialmente desenvolver uma linguagem humana.
Por isso as crianças precisam, principalmente, de que haja quem fale com elas, que lhes dedique muito tempo, atenção, afeto, que brinque com elas, que cante para elas, que conte histórias para elas. Elas precisam de passear ao ar livre, de ter contato com a natureza, de brincar com outras crianças; elas necessitam aprender a ver longe (e não apenas nas telas), para evitar a miopia e as doenças óticas mais graves associadas a ela. Todos esses estímulos formam o cérebro e o homem adulto. Quando os pais oferecem aos seus filhos celulares e telas ao invés da palavra, da atenção, do tempo e do afeto, causam graves danos ao cérebro dos seus filhos, afetam negativamente a sua relação com eles, o que logo causará danos a toda a sociedade.
Segundo Haidt, os pertencentes à Geração Z são “produtos danificados de uma enorme mudança na cultura infantil”. Os nascidos no final dos anos 90 são filhos de pais medrosos e superprotetores, que exercem uma supervisão constante sobre as crianças. A Geração Z se tornou a primeira geração de pré-adolescentes e adolescentes a passar a adolescência sob o domínio dos smartphones, formando suas identidades no universo amplamente não regulamentado e mal compreendido das mídias sociais. A combinação tóxica de “superproteção no mundo real e subproteção no mundo virtual” deixou os jovens superansiosos.
De fato, o tempo gasto na frente das telas e longe das interações pessoais contribuiu para o isolamento, a depressão, a falta de sono, a atenção fragmentada e os tornou viciados em doses de dopamina de curtidas, retuítes e comentários.
O autor propõe quatro reformas para uma infância mais saudável na “era digital”: 1) nada de smartphones antes do 9º ano; 2) nada de redes sociais antes dos 16 anos; 3) nada de celular na escola; 4) conceder mais independência às crianças, com a possibilidade de um brincar não supervisionado e a repartição de responsabilidades às crianças e aos adolescentes no mundo real.