A Igreja Católica celebra nesta quinta-feira, 30 de maio, a festa de Corpus Christi, quando a Eucaristia, o Corpo e Sangue de Jesus, deixa a igreja para a procissão pelas principais ruas da cidade, enfeitadas com tapete confeccionados com vários materiais e desenhos, manifestando a fé do povo. Na Diocese de Petrópolis, haverá missa e procissão em todas as 49 paróquias e o bispo diocesano, Dom Joel Portella Amado vai presidir a celebração e a procissão, às 9h, na Igreja Santa Teresa em Teresópolis e, às 15h, na Catedral São Pedro de Alcântara em Petrópolis.
Rogerio Tosta Ascom / Diocese de Petrópolis
Desde a sua chegada na Diocese de Petrópolis, em 9 de março, Dom Joel tem chamado atenção para fidelidade a palavra de Jesus, ao seu ensinamento e ao convite de sermos fiéis ao seu amor, que nos impulsiona a ir ao encontro do próximo. O bispo diocesano afirma que “Jesus se deixou para nós não como pedra, não como um metal precioso, não como moeda, não como espada, não como lança, não como instrumentos de violência e de guerra. Jesus se fez um pedaço de pão. Jesus se faz e se entrega a nós num pouco de vinho, numa gota de vinho, para mostrar a nós e a palavra que ele diz e repetimos em toda missa: isto é o meu corpo”.
O bispo falando sobre o amor de uma pessoa que pode fazer qualquer coisa pela pessoa amada, afirma que este é o amor de Jesus “que não mata, mas que morre, que se entrega totalmente pelo outro. Jesus deixou um pequeno pedaço de pão. Expressão de um amor tão grande por nós, porque para nós não é apenas pão e vinho, é o corpo e sangue de Jesus”.
O Padre Leonardo João da Silva, Vigário Paroquial de Sant’Ana e São Joaquim, Cascatinha, em Petrópolis e apresentador do programa Festas Litúrgicas da Webtv Amor Divino – @WebTv1_AmorDivino – , afirma, que todos os fiéis precisam participar desta manifestação de fé em Cristo presente na Eucaristia. De acordo com ele, “não apenas com a ideia de cumprir um preceito, mas correspondendo de forma toda especial ao grande amor do Senhor Jesus, que continua conosco na Eucaristia, que continua nos alimentando, que continua nos dando força para que também nós, possamos professar nossa fé e como continuadores dessa tradição, levar também aos nossos irmãos e irmãos tão grande realidade, tão grande mistério da salvação”.
Santa Juliana e a festa de Corpus Christi
Entre as muitas figuras que se destacam na origem da festa de Corpus Christi, uma delas é Santa Juliana de Cornillon, que como afirmou o Papa Bento XVI na audiência geral de novembro de 2010: “uma figura feminina pouco conhecida, mas à qual a Igreja deve um grande reconhecimento, não apenas pela sua santidade de vida, mas também porque, com o seu intenso fervor, contribuiu para a instituição de uma das solenidades litúrgicas mais importantes do ano, a do Corpus Christi”.
Bento XVI chama atenção para o fato de que em Liège, na Bélgica. “era, por assim dizer, um verdadeiro cenáculo eucarístico. Antes de Juliana, teólogos insignes explicaram ali o valor supremo do Sacramento da Eucaristia e, ainda em Liège, havia grupos femininos generosamente dedicados ao culto eucarístico e à comunhão fervorosa. Orientadas por sacerdotes exemplares, elas viviam juntas, dedicando-se à oração e às obras de caridade”.
O Papa, como fez com diversos santos e doutores da Igreja, faz uma apresentação simples, porém bem detalhada sobre a história de Santa Juliana, comentando que “era dotada de um profundo sentido da presença de Cristo, que experimentava vivendo de modo particular o Sacramento da Eucaristia e detendo-se com frequência para meditar sobre estas palavras de Jesus: Eis que Eu estou convosco todos os dias, até ao fim do mundo”. (Cf: Mt 28, 20)
De acordo com os relatos, como conta o Papa, com a idade de 16 anos, Juliana teve a primeira visão que “apresentava a lua no seu mais completo esplendor, com uma faixa escura que a atravessava diametralmente. O Senhor levou-a a compreender o significado daquilo que lhe tinha aparecido. A lua simbolizava a vida da Igreja na terra, a linha opaca representava, ao contrário, a ausência de uma festa litúrgica, para cuja instituição se pedia a Juliana que trabalhasse de maneira eficaz: ou seja, uma festa em que os fiéis pudessem adorar a Eucaristia para aumentar a fé, prosperar na prática das virtudes e reparar as ofensas ao Santíssimo Sacramento”.
Ela contou a visão que teve a duas mulheres e juntas passaram a glorificar o Santíssimo Sacramento e contaram o ocorrido ao Padre João de Lausanne, cónego na igreja de São Martinho em Liège, “pedindo-lhe que interpelasse teólogos e eclesiásticos sobre aquilo que elas estimavam”. A realização da festa de Corpus Christi, porém somente se tornou realidade quando, em 1247, o Padre Roberto de Thourotte se tornou Bispo de Liége e a instituiu a nível diocesano.
O milagre eucarístico e o Papa Urbano IV
No entanto, em 1264, na cidade de Bolsena, quando um sacerdote que tinha dúvidas sobre sua fé, celebrava a Santa Missa, no momento da consagração a hóstia em suas mãos tomou a cor de sangue e gotas de sangue surgiram manchando o corporal e o altar. O sacerdote levou no mesmo instante para o bispo da região e este levou ao Papa Urbano IV, que, quando sacerdote havia conhecido Santa Juliana e dela ouviu sobre a visão.
Com a relação ao Papa Urbano IV e sua relação com a festa de Corpus Christi, Bento XVI faz o seguinte relato: “O próprio Pontífice quis dar o exemplo, celebrando a solenidade do Corpus Christi em Orvieto, cidade onde então residia. Precisamente por sua ordem, na Catedral dessa Cidade conservava-se — e ainda hoje se conserva — o célebre corporal com os vestígios do milagre eucarístico ocorrido no ano precedente, 1263, em Bolsena”.
Tomás de Aquino foi encarregado de compor um ofício litúrgico para a solenidade: o hino mais famoso foi Sacris solemniis, cuja penúltima estrofe, que começava com as palavras Panis angelicus (Pão dos anjos), foi sempre tocada e cantada, separadamente, do resto do hino. Papa Urbano IV faleceu dois meses antes da instituição desta festa. Por isso, a bula nunca foi colocada em prática. Os Papas Clemente V e, depois, João XII, a restabeleceram em 1317.
Bento XVI, concluiu sua catequese, em 2010, sobre Santa Juliana fazendo um convite a todos os fiéis: “Caros amigos, a fidelidade ao encontro com Cristo Eucarístico na Santa Missa dominical é essencial para o caminho de fé, mas procuremos também ir visitar frequentemente o Senhor presente no Tabernáculo! Contemplando em adoração a Hóstia consagrada, nós encontramos o dom do amor de Deus, encontramos a Paixão e a Cruz de Jesus, assim como a sua Ressurreição. Precisamente através do nosso olhar de adoração, o Senhor atrai-nos para Si, para dentro do seu mistério, em vista de nos transformar do mesmo modo como transforma o pão e o vinho. Os Santos sempre hauriram força, consolação e alegria do encontro eucarístico. Com as palavras do Hino Eucarístico Adoro te devote repitamos diante do Senhor presente no Santíssimo Sacramento: Fazei-me crer cada vez mais em Vós, que em Vós eu tenha esperança, que eu vos ame!”.
A tradição dos tapetes no Brasil
Os tapetes de Corpus Christi são uma tradição católica popular, que é comum em várias cidades do Brasil e Portugal, sendo confeccionados durante a celebração do dia de Corpus Christi. Segundo tradição antiga, a confecção dos tapetes para passagem do ostensório com a Hóstia Consagrada estaria ligada a passagem do evangelho, que narra a entrada de Jesus em Jerusalém, quando o povo ia colocando no chãos panos e folhas para ele passar (Cf: Lc 19,29-40).
A prática, surgida em Portugal e posteriormente difundida no Brasil durante o período da colonização consiste na confecção de representações de cenas bíblicas, objetos devocionais ou simples temas ornamentais sobre as ruas em que a procissão da Eucaristia passará, o mais comum são desenhos que fazem alusão à figura de Cristo, do pão e do cálice.
Os tapetes, tradicionalmente confeccionados de serragem e sal coloridos, empregam nos dias atuais uma gama de materiais, tais como borra de café, areia, flores, farinhas, dentre outros. Nos últimos anos, algumas paróquias vêm substituindo estes materiais, que seriam descartados, por roupas e alimentos que após a procissão se constituirão em cestas para doação, um ato de fraternidade que, de imediato, gera menos resíduo. Seu comprimento varia de acordo com cada cidade ou paróquia, indo desde poucas centenas de metros até alguns quilômetros.
Quer saber mais e aprofundar o estudo sobre a Eucaristia e a festa de Corpus Christi, a seguir algumas dicas:
Catecismo da Igreja Católica – Capítulo primeiro – Os sacramentos da iniciação cristã – Artigo 3: O sacramento da Eucaristia (1322-1419)
https://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p2s2cap1_1210-1419_po.html
Sacramentum Caritatis: Exortação Apostólica Pós-Sinodal sobre a Eucaristia fonte e ápice da vida e da missão da Igreja (22 de fevereiro de 2007)
https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/apost_exhortations/documents/hf_ben-xvi_exh_20070222_sacramentum-caritatis.html
Ecclesia de Eucharistia (17 de abril de 2003)
https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_20030417_eccl-de-euch.html
Homilias de Sua Santidade Bento XVI sobre a Eucaristia
https://www.vatican.va/holy_father/special_features/eucharist/documents/eucharist-homilies_po.html
Mysterium Fidei (3 de setembro 1965)
https://www.vatican.va/content/paul-vi/pt/encyclicals/documents/hf_p-vi_enc_03091965_mysterium.html
Catequeses do Papa Francisco sobre a Eucaristia
https://www.mitrascs.com.br/uploads/Downloads/bf896d8d5f3e0f5c8b6265f4105723a9.pdf