A Oração dá Firmeza à Fé!

Dom José Maria Pereira

O Evangelho (Lc 18, 1-8) realça três aspectos quanto à oração: a oração como expressão da fé em Deus; a presença da oração em toda a vida da pessoa e a perseverança na oração. Um ensinamento fundamental deixa Jesus: a necessidade de rezar sempre, sem desanimar. Às vezes, cansamo-nos de rezar, temos a impressão de que a oração não é útil para a vida, que é pouco eficaz. Por isso, somos tentados a dedicar-nos às atividades, a empregar todos os meios humanos para alcançar as nossas finalidades, e deixamos de recorrer a Deus. Jesus, ao contrário, afirma que é necessário rezar sempre, e faz isso mediante uma parábola específica (Lc 18) que poderia resumir sua mensagem deste modo: a força que, silenciosamente e sem clamores, muda o mundo e o transforma no Reino de Deus, é a fé, e a expressão da fé é a oração. Quando a fé está repleta de amor a Deus, reconhecido como Pai, bom e justo, a oração faz-se perseverante e insistente, tornando-se um suspiro do espírito, um brado da alma que penetra o Coração de Deus. Desse modo, a oração torna-se a maior força de transformação do mundo. É a oração que conserva acesa a chama da fé. Como pudemos ouvir, no final do trecho do Evangelho, Jesus pergunta: “Quando o Filho do Homem voltar, encontrará a fé sobre a Terra?” (Lc 18, 8). Trata-se de uma pergunta que nos faz pensar.

Qual será a nossa resposta a essa inquietante interrogação? Hoje, queremos repetir em conjunto e com coragem humilde: Senhor, a vossa vinda ao meio de nós, nesta celebração dominical, encontra-nos congregados com a chama da fé acesa. Acreditamos e confiamos em Vós! Aumentai a nossa fé! A fé assegura-nos que Deus ouve a nossa oração e nos atende no momento oportuno, não obstante a experiência quotidiana pareça desmentir esta certeza, Jesus narra a parábola do juiz injusto e da viúva. Trata-se de um juiz que “não temia a Deus, nem respeitava os homens” e que não quer saber nada de uma pobre viúva que a ele recorre, exigindo justiça; por fim, cede às suas incessantes súplicas para que ela não o continue a incomodar. Desse exemplo, Jesus tira uma lição: fazer compreender que Deus, muito melhor que o juiz injusto, escutará as súplicas de quem a Ele recorre confiadamente.

Além de lançarmos mão dos meios humanos, que cada situação requer, temos de recorrer ao Senhor como filhos necessitados. Somente a misericórdia divina pode socorrer-nos, em tantas ocasiões. Conta o Santo Cura d’Ars que o fundador de um célebre asilo de órfãos o consultou sobre a oportunidade de atrair a atenção e o favor das pessoas através da imprensa. O Santo respondeu-lhe: “Ao invés de fazer barulho nos jornais, faça-o à porta do Tabernáculo”.

Santo Agostinho, ao comentar esta passagem do Evangelho, ressalta a relação que existe entre a fé e a oração confiante: “Se a fé fraqueja, a oração perece; pois a fé é a fonte da oração e o rio não pode fluir se o manancial fica seco”. A nossa oração tem de ser contínua e confiada, como a de Jesus, nosso Modelo: “Pai, eu sei que sempre me ouves” (Jo 11, 42). Ele nos escuta sempre.

Não devemos cansar-nos de orar! E, se alguma vez o desalento e a fadiga começam a atingir-nos, temos que pedir aos que estão ao nosso lado que nos ajudem a continuar a rezar, sabendo que, já nesse momento, o Senhor está concedendo-nos muitas outras graças, talvez, mais necessárias do que os dons que lhe pedimos.

Examinemos, hoje, se a nossa oração é perseverante, confiada, insistente. “Persevera na oração, como aconselha o Mestre. Esse ponto de partida será a origem da tua paz, da tua alegria, da tua serenidade e, portanto, da tua eficácia sobrenatural e humana” (São Josemaria Escrivá, Forja, nº 536). Não há nada que uma oração perseverante não alcance!

Na parábola, ao juiz, o Senhor contrapõe uma viúva, símbolo da pessoa indefesa e desamparada. E à sua insistência perseverante em pedir justiça, a resistência do juiz em atendê-la. O final inesperado acontece depois de um contínuo ir e vir da viúva e das reiteradas negativas do juiz. Este acaba por ceder, e a parte mais fraca obtém o que desejava. Mas a razão desta vitória não está em que o coração do administrador da justiça mudou: a única arma que conseguiu a vitória foi a oração incessante, a insistência da mulher! E o Senhor conclui com uma reviravolta: “E Deus, não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por Ele? Será que vai fazê-los esperar?” (Lc 18, 7). Jesus faz ver que o centro da parábola não é o juiz injusto, mas Deus, cheio de misericórdia, paciente e imensamente zeloso pelos seus.

O Senhor explica, nesta parábola, que são três as razões pelas quais as nossas orações são sempre ouvidas: primeiro, a bondade e a misericórdia de Deus, que distam tanto das disposições do juiz ímpio; depois, o amor de Deus por cada um dos seus filhos; e, por fim, o interesse que nós mostramos, perseverando na oração.

“É preciso reconhecer, humilde e realmente, que somos frágeis e débeis, com necessidade contínua de força interior e de consolação. A oração dá força para os grandes ideais, para manter a fé, a caridade, a pureza, a generosidade. A oração dá ânimo para sair da indiferença e da culpa, se por desgraça se cedeu à tentação e à debilidade; a oração dá luz para ver e julgar os acontecimentos da própria vida e da própria história, na perspectiva salvífica de Deus e da eternidade. Por isso, não deixeis de orar! Não passe um dia sem que tenhais orado um pouco! A oração é um dever, mas também é uma grande alegria, porque é um diálogo com Deus, por meio de Jesus Cristo! Cada domingo, a Santa Missa e, se vos é possível, alguma vez, também, durante a semana; cada dia as orações da manhã e da noite e nos momentos mais oportunos!” (São João Paulo II, Aos Jovens, 14/03/1979).

Ao terminar a parábola, Jesus acrescenta: “Mas o Filho do Homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a Terra?” (Lc 18, 8). Por ventura, encontrará uma fé semelhante à da viúva? Trata-se de uma fé concreta: a fé dos filhos de Deus, na bondade e no poder do seu Pai do Céu. O homem pode fechar-se a Deus, não sentir necessidade dEle, procurar por outros caminhos a solução para as suas deficiências, e, então, jamais encontrará os bens de que necessita. Trata-se de uma interrogação que quer suscitar um aumento de fé da nossa parte. Com efeito, é claro que a oração deve ser expressão de fé, pois caso contrário não é verdadeira oração. Quem não crê na bondade de Deus não pode rezar de modo verdadeiramente adequado. A fé é essencial como base da atitude da oração.

Uma consequência direta da fé é a oração, mas, ao mesmo tempo, “a oração dá maior firmeza à própria fé. Ambas estão perfeitamente unidas. Por isso, quando pedimos, acabamos por ser melhores; se não fosse assim, não nos tornaríamos mais piedosos, mas mais avaros e ambiciosos”, diz Santo Agostinho.

Vale a pena considerar o que sobressai no texto do Êxodo (Êx 17, 8 – 13), a célebre narração da batalha entre os israelitas e os amalecitas. O que determinou a sorte daquele árduo conflito foi precisamente a oração dirigida com fé ao Deus verdadeiro. Enquanto Josué e os seus homens enfrentavam os adversários no campo, Moisés estava no cimo da colina com as mãos levantadas, na posição da pessoa em oração. Essas mãos erguidas, do grande comandante, garantiram a vitória de Israel. Deus estava com o seu povo, desejava a sua vitória, mas condicionava sua intervenção às mãos levantadas de Moisés. Parece incrível, mas é assim: Deus tem necessidade das mãos erguidas do seu servo! Os braços levantados de Moisés fazem pensar nos braços de Jesus na Cruz: braços abertos e pregados, com que o Redentor venceu a batalha decisiva contra o inimigo infernal. A sua luta, as suas mãos elevadas para o Pai e abertas para o mundo exigem outros braços, outros corações que continuem a oferecer-se com o seu próprio amor, até ao fim do mundo.

São Gregório de Nissa ensina, sobre a oração: “Afasta-se de Deus quem não se une a ele na oração. Portanto, o primeiro que deveis aprender sobre a oração é isto: que se deve orar sempre sem desanimar-se. Pois mediante a oração conseguimos estar com Deus. E aquele que com Deus está, longe do inimigo está. A oração é a base e o escudo da honestidade, o freio da ira, o sedativo e o controle da soberba. A oração é o selo da virgindade, garantia da fidelidade conjugal, esperança dos que vigiam, fertilidade dos agricultores, salvação dos navegantes. E penso que mesmo que nós passássemos toda a vida conversando com Deus, orando e dando-lhe graças, estaríamos tão longe de recompensá-lo como merece, como se em nenhum momento tivéssemos abrigado o propósito de recompensar ao nosso benfeitor”.

Neste mês de outubro, Mês das Missões, não deixemos de servir-nos do Santo Rosário, como oração sempre eficaz, para conseguir, através de Nossa Senhora, tudo aquilo de que precisamos, nós e as pessoas que, de alguma maneira, dependem de nós. Não separemos a oração da vida, da ação! Tudo pode ser impregnado da presença de Deus. E isso é oração!

Hoje é o Dia Mundial das Missões, que, neste Ano Jubilar, tem como tema central a esperança. Ainda o Papa Francisco deixou a mensagem para este dia como lema “Missionários da esperança entre os povos,” que recorda a cada um dos cristãos e a toda a Igreja, comunidade dos batizados, a vocação fundamental de ser mensageiros e construtores da esperança nas pegadas de Cristo”.

Continua o Papa Francisco: “Os missionários da esperança são homens e mulheres de oração, porque “a pessoa que espera é uma pessoa que reza”, como dizia o Venerável Cardeal Van Thuan, o qual manteve viva a esperança, na longa tribulação do cárcere, graças à força da oração perseverante e da Eucaristia. Não esqueçamos que a oração é a primeira ação missionária e, ao mesmo tempo, a primeira força da esperança” (Catequese, 20 de maio de 2020).

Falando sobre Missões, disse o Papa Leão XlV: “Missões é ficar”. Com essa expressão, o Santo Padre refere-se a uma “nova era missionária” em que a Igreja deve priorizar o acolhimento e a presença junto aos mais necessitados e migrantes, em vez de apenas focar na expansão geográfica. A missão é ficar para acolher, dar apoio, consolar e partilhar o Evangelho, enfrentando as periferias e desafios do mundo com compaixão e solidariedade.

Continua o Papa Leão XlV: “Devemos buscar juntos ser uma Igreja missionária, uma Igreja que constrói pontes, dialoga e está sempre aberta para acolher”.

Ao longo dos séculos, o povo cristão sentiu-se movido a apresentar os seus pedidos a Deus através da Mãe de Cristo e Mãe nossa. São Bernardo ensina que “a nossa Advogada subiu ao Céu para que, como Mãe do Juiz e Mãe da Misericórdia, tratasse dos assuntos da nossa salvação”. Não deixemos de recorrer a Ela, nas pequenas necessidades diárias.

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