Vimos anteriormente que os Padres da Igreja e Santo Tomás de Aquino distinguiram a imagem da semelhança de Deus no homem. De fato, Santo Irineu de Lião distinguiu a “imagem” de Deus, que o homem tem por natureza, e a “semelhança” de Deus, que o homem adquire por meio das virtudes e da vida segundo o Espírito Santo. A imagem não é perdida pelo pecado, mas apenas a “semelhança” (Adv. Haer. IV, 16,2).
Ela pode, porém, ser recuperada por meio da vida oferecida pelo Espírito Santo. A imagem designa, pois, a natureza humana, que não é perdida ou totalmente corrompida por causa do pecado. O homem foi feito à semelhança de Deus, a qual é afetada pelo pecado. Ele a recupera por meio da graça de Cristo, o qual é a verdadeira imagem de Deus.
São Basílio explica isso muito bem. Ele diz: “‘Façamos ao homem à nossa imagem e segundo nossa semelhança’”. O primeiro possuímos pela criação; o segundo o adquirimos pela vontade.
A primeira configuração, o ser à imagem de Deus, nos foi dado ao nascer; o ser semelhante a Deus ocorre por nossa vontade. […]. Ele nos criou com a capacidade de nos assemelharmos a Deus, permitiu que sejamos os artistas da semelhança com Deus, para que haja recompensa pelo nosso trabalho […]. Com efeito, pela imagem, possuo o ser racional; mas chego à semelhança ao fazer-me cristão” (Homilia I sobre a origem do homem, 16).
E Santo Agostinho afirmou: “Agora já começamos a ser semelhantes a Deus, porque temos as primícias do Espírito; mas lhe somos dessemelhantes pelo que fica em nós do velho Adão” (De peccat. meritis et remissione, II, 7, 10). O atual Catecismo da Igreja Católica (n. 705) diz a respeito dessa distinção:
“Desfigurado pelo pecado e pela morte, o homem permanece ‘à imagem de Deus’, à imagem do Filho, mas está ‘privado da glória de Deus’, privado da ‘semelhança’. A promessa feita a Abraão inaugura a ‘economia da salvação’, no termo da qual o próprio Filho assumirá ‘a imagem’ e restaurá-la-á na ‘semelhança’ com o Pai, voltando a dar-lhe a glória, o Espírito ‘que dá a vida’”.
Santo Tomás de Aquino, na Suma teológica (I, q. 93, a. 9), cita São João Damasceno, sobre esse tema: “aquilo que é à imagem significa algo intelectual, dotado de livre-arbítrio e dono de si mesmo. O que é à semelhança significa a semelhança da virtude, enquanto é possível existir no homem” (De Fide Orth., l. 11, c. 12: MG 94, 920 B).