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A Dignidade da Mente Humana, Segundo Tomás De Aquino

Pe. Anderson Alves

Comparamos nos artigos anteriores as atuais inteligências artificiais e a mente humana. No último texto, falamos da mente de Tomás de Aquino, em comparação com o poder desses atuais programas informáticos. Isso nos leva a refletir sobre a dignidade da mente humana, segundo o mesmo santo e doutor da Igreja.

Numa das suas obras mais importantes, De veritate (q. 10, art. 1), Tomás de Aquino se pergunta se a mente humana, enquanto imagem da Trindade, seja a essência da alma ou alguma potência sua. Essa é uma reflexão procedente de Santo Agostinho, no seu De Trinitate. No livro IX daquela obra, Agostinho diz que “mente” e o “espírito” se referem à essência da alma. E a imagem de Deus está presente na nossa mente, no nosso conhecimento (“notitiae”) e no nosso amor. Por isso, o homem seria imagem do Pai (pelo seu ser), do Filho (pelo seu conhecer) e do Espírito Santo (por seu amor).

Tomás responde à questão dizendo que o nome “mente” (mens) é tomado do ato de medir (mensurare). E as realidades são medidas no seu gênero segundo o seu menor elemento, que é o primeiro (como o metro é medido a partir dos centímetro, por exemplo). Assim, fala-se de “mente” na alma humana para se referir ao intelecto, pois só ele recebe o conhecimento das realidades. Ele o faz como que medindo todas as realidades a partir dos seus princípios.

O intelecto, enquanto capacidade de conhecer, é, pois, uma potência (ou faculdade) da alma. A potência é algo intermediário entre a essência e a operação. A essência é o que faz que cada realidade seja o que é, e é também o seu princípio de ações. Como as essências das realidades nos são desconhecidas, nós as conhecemos pelas suas faculdades, que realizam atos. Por exemplo: não conhecemos a essência do cachorro, mas sabemos que algum cão está por perto quando ouvimos latidos. Dessa forma, muitas vezes usamos os nomes das faculdades para nos referir às essências das realidades. Falamos do ser que late para nos referir ao cachorro.

Entretanto, nada torna-se manifesto a nós senão por meio do que lhe é próprio. Se um cão escondido faz barulho, podemos nos perguntar pela causa do ruído. Porém, se um cão que não vemos late, sabemos que há um cachorro por perto. Dessa forma, é necessário que, quando se reconheça algo por meio de uma potência, essa deve ser a mais própria daquele ser.

Ora, entre os seres vivos, os que possuem as faculdades superiores também possuem as inferiores. “Quem é capaz de levar mil libras, é capaz de levar cem” (Aristóteles). Quando, pois, se designa algo por sua potência, deve-se referir à potência mais alta, a algo de próprio, pelo qual aquilo seja reconhecido. Segundo Tomás de Aquino e Aristóteles, a alma encontra-se nas plantas, nos animais e nos homens. A mais elementar de todas é a alma nutritiva ou vegetativa, assim chamada devido a essa sua potência; uma alma mais elevada é a dos animais, chamada de “sensitiva”, pois os animais possuem sentidos, algo que as plantas não têm. A alma humana é o grau mais elevado de alma e possui, além das capacidades vegetativas e sensitivas, a faculdade intelectiva. Por isso é chamada, às vezes, de “intelecto” ou de “mente”, pois a sua natureza possui a faculdade de conhecer, de medir as realidades e isso é o que ela tem de próprio.

De modo que na nossa alma, a mente designa o grau mais elevado das suas faculdades. E a imagem divina está em nós segundo o que temos de mais perfeito. A imagem divina, pois, pertence à nossa mente por ser a sua potência mais alta. Por isso a mente, enquanto imagem divina designa a faculdade mais elevada da alma.

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