Dissemos anteriormente que para aprender, para conhecer-se e para memorizar é necessário um passo lento e ponderado. São essenciais à educação a leitura lenta, o diálogo e o afeto. A internet e as inteligência artificiais, por sua vez, privilegiam a velocidade, gerando a ilusão do conhecimento, o qual é o motivo deles serem quase imediatamente esquecidos. A internet é excelente para se “navegar”, ou seja, para ficar na superfície dos assuntos, sem aprofundar realmente no que de fato importa.
Tudo isso pode ser comprovado de diversos modos. Giovanni Cucci nos recorda, por exemplo, que os amantes da literatura que se tornaram grandes escritores, quando falam do seu percurso intelectual acentuam a importância do diálogo, da repetição lenta e do afeto no seu processo de aprendizagem e de despertar do gosto pele atividade literária (Internet e cultura, 2016, 44-46).
Elias Canetti, por exemplo, prêmio Nobel de Literatura em 1981, descreve o seu percurso de formação com as seguintes palavras: “Eu lia os livros ingleses que tinha levado de Manchester e era o meu orgulho lê-los e relê-los continuamente. Sabia exatamente quantas vezes tinha lido cada um daqueles livros, alguns mais de quarenta vezes, e já que, como é obvio, os conhecia de memória, aquele continuar a retomá-los nas mãos servia apenas para eu bater os meus recordes” (La lingua salvata, 1993, p. 498). Ele disse que começou a se apaixonar pela literatura quando, ainda pequeno, era convidado por sua mãe e ler em voz alta as obras de Shakespeare. Essa era uma experiência tão bela que lhe parecia que o tempo parava, pois ele entrava em profunda comunhão com a sua mãe.
De fato, quando se penetra profundamente em algum assunto, tem-se a sensação de que o tempo fugiu, ou seja, horas passam como se fossem minutos. Isso indica a profundidade do pensamento, o qual gera memorização. O que se pensa intensamente, com ardor, fica vivo na mente e pulsante na memória. Canetti afirmava na mesma obra: “Às vezes, quando se tornava tarde e ela era inconsciente da hora, continuávamos a ler e a ler, e eu sentia que ela era raptada pelo entusiasmo e não iríamos deixar de ler tão cedo. Isso dependia um pouco de mim. Quanto eu mais reagia com inteligência, quantos mais coisas conseguia dizer, mais vivas se despertavam nela as emoções vividas há muito tempo” (p. 499).
George Steiner, que foi crítico literário e professor em Cambridge e Genebra, recordava com gratidão a habilidade do seu pai para levá-lo a se apaixonar pela leitura. “Um novo livro me era dado somente quando submetia à sua atenção um resumo escrito do que eu tinha lido. Se não tivesse entendido uma passagem – as escolhas e as sugestões do meu pai miravam cuidadosamente ao que estava acima das minhas capacidades – eu lhe devia ler em voz alta. Com frequência essa leitura esclarecia o significado do texto. Se a má compreensão não se resolvia, eu devia copiar as frases relevantes à mão. Em geral, essa ação obrigava o texto a entregar o seu tesouro […]. Meu pai fez da minha infância uma festa exigente” (Errata. Una vita sotto esame. 2000, p. 18-19).
A leitura em voz alta, como afirmou o linguista Noam Chomsky, serve de estímulo ao desejo de conhecer. A repetição, a escrita à mão e a reelaboração dos textos são indispensáveis para se descobrir o valor inestimável da cultura. A leitura lenta, sem pressa, acompanhada por anotações pessoais, pelo desejo de se entender mais coisas e de agradar a uma pessoa amada transforma o leitor, a sua maneira de ver a vida e de se relacionar com os outros.
E hoje, muitas vezes, os pais não encontram tempo para dedicar aos seus filhos, com atenção e afeto. Preferem permitir que eles se acostumem ao ritmo frenético da internet e das mídias sociais. Depois dizem não entender o fracasso escolar e social da juventude atual. Esses temas são, pois, muito relevantes aos pais e educadores e continuaremos a desenvolvê-los mais adiante.
