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Se Deus existe, por que há tanto mal no mundo? (II parte) – Padre Anderson Alves

Dissemos anteriormente que o conjunto da fé cristã é uma resposta ao problema do mal, que está presente em todas as consciências e as vezes aparece com força na voz de alguns filósofos. Os pensadores cristãos procuram dar respostas às angústias dos homens a partir da reflexão ordenada e sistemática sobre a própria fé (Teologia). Sendo assim, dizem que Deus criou todas as coisas boas e o mal entra no mundo com o pecado dos anjos e dos homens. Esse pecado repercute sobre toda a criação.

De fato, a separação dos homens com Deus causou uma série de rupturas no homem. Ele perdeu a amizade com Deus, a imortalidade, a vida sem sofrimentos; a ruptura com Deus gerou uma outra: a social; o homem agora volta-se contra o seu irmão (como Caim se voltou contra Abel), o marido volta-se contra a sua esposa (como Adão acusou Eva de ser causa do seu mal). O pecado gera uma ruptura do homem com a natureza, que agora geme como que dores de parto, esperando o dia da sua renovação. E o homem foi abalado com o pecado no seu mesmo ser: agora a sua vontade não realiza o bem que a sua inteligência lhe indica; e o seu corpo nem sempre segue o que lhe diz a alma. O apetite sensível não obedece à inteligência, que nem sempre obedece à vontade. “Não faço o bem que quero, mas o mal que não quero”.

Há uma solução para isso? Certamente. Toda a fé cristã é uma resposta. Desde o início, Deus quer a salvação do homem e começou um processo longo e pedagógico para redimi-lo. Há, no cristianismo, a compreensão de que existe uma “História da salvação”. Deus quer fazer o homem perceber as próprias trevas para poder iluminá-lo novamente com a sua luz.

A História da salvação culminou com o mistério pascal de Cristo. Na Cruz, Cristo deu uma resposta definitiva ao problema do mal e trouxe a redenção do gênero humano. O homem e o anjo foram criados para amar e viver na comunhão com Deus. Na Cruz, o Filho de Deus experimentou um resumo de todo o mal que há no mundo – injustiça, incompreensão, abandono, covardia dos amigos, violência física, opressão, insultos etc. – e transformou o maior de todos os males no maior de todos os bens: num ato de amor e de culto a Deus. Assim o homem pode ser redimido e voltar à comunhão com Deus, embora nessa vida ainda se enfrente com os males, como o próprio Salvador os afrontou.

Enquanto há vida sobre a Terra, os homens estão escolhendo, com as suas ações, o seu destino eterno. Escolhem ao longo dos anos o que os anjos responderam instantaneamente: se querem servir a Deus, e viver para a comunhão com Ele, ou se preferem viver para si, imitando a soberba dos demônios. A fé cristã afirma que os anjos e os demônios são seres muito mais perfeitos do que os homens, com uma inteligência muito mais pura, imaterial, e decidiram uma só vez, e essa decisão é irrevogável. Para os demônios, não há salvação e por isso o inferno é eterno. O homem tem uma inteligência fraca, confusa e nem sempre é consciente de estar sempre decidindo entre Deus e o nada. O nihilismo é o verdadeiro inimigo de Deus e do homem. E o destino humano é decidido ao longo de uma vida. Embora a inteligência do homem seja mais fraca, é capaz de escolhas. Nós o experimentamos dezenas de vezes em um só dia de vida. De forma que podemos escolher entre Deus e uma vida sem sentido: entre uma vida eterna com Deus ou uma vida eterna sem Deus. Essa é a grandeza e a seriedade da nossa responsabilidade. Esse é o valor do nosso tempo.

Santo Agostinho, comentando a traição de Judas, disse: essa é diferença entre Deus e as criaturas: Deus faz o bem com os males do homem; e o homem faz o mal com os bens de Deus. O homem usa os seus bens, como a sua inteligência, a sua vontade, o seu corpo para se opor a Deus. Enquanto Deus usou a traição de Judas, e de todas as criaturas, para, a partir disso, redimir o homem. Assim conhecemos a imensa bondade e o imenso poder de Deus.

Portanto, Deus existe, é sumamente bom, sábio e onipotente. Ele é aquele que é, enquanto eu sou aquele que não sou (Santa Catarina de Siena). Enquanto vivemos sobre a Terra, sabemos que Deus é amor, justo, bondoso e generoso. E devemos suportar o mal, causado fundamentalmente pelo pecado, até que esse mundo seja transformado e a Redenção de Cristo toque a todos os homens. O homem é um ser realmente livre e responsável. A liberdade é a sua capacidade de amar a Deus, ao próximo e à criação. Esse é o seu fim. Ela está dirigida à comunhão, e não à soberba que gera morte. A liberdade nos torna conscientes de nossos atos, do nosso fim eterno e do valor do nosso tempo e da nossa história.

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